Raraxó, o Papagaio Espelho
No coração de uma vila cercada por manguezais, vivia um papagaio único, conhecido como Raraxó. Seu nome ecoava tanto quanto sua voz, pois ele tinha um talento especial: repetir tudo o que ouvia. Diferente de outros papagaios, Raraxó não só repetia palavras, mas também capturava o tom e as emoções com que eram ditas.
Raraxó foi encontrado ainda filhote por Dona Zilá, uma senhora sábia que cultivava ervas e preparava chás para os moradores. Ela o resgatou após uma tempestade e cuidou dele com todo carinho. Em pouco tempo, Raraxó tornou-se famoso na vila. Sempre empoleirado na varanda da casa de Zilá, ele acompanhava o cotidiano com olhos atentos e ouvidos abertos.
As crianças adoravam brincar com ele, testando sua habilidade de imitar. Um dia, Pedrinho gritou:
— Raraxó, você é um boboca!
E o papagaio respondeu prontamente:
— Você é um boboca!
Isso arrancou gargalhadas, mas também trouxe uma reflexão inesperada. Naquele mesmo dia, Dona Zilá explicou:
— Raraxó não faz por mal. Ele é como um espelho que reflete tudo o que recebe.
Pouco tempo depois, a habilidade de Raraxó revelou um lado mais profundo. Na praça, um vizinho chamado Seu Antero começou a brigar com outro morador. Raraxó, que estava empoleirado em uma árvore próxima, repetiu em alto e bom som:
— Você é insuportável!
A frase ecoou, deixando todos desconfortáveis. Dona Zilá, ao saber do ocorrido, aproveitou para transmitir um ensinamento:
— Vejam só, o que sai de nossas bocas pode ferir ou alegrar. Raraxó só mostra aquilo que já está em nós.
Com o tempo, a vila percebeu que o papagaio não era apenas divertido, mas também um lembrete de como nossas palavras moldam o ambiente. As pessoas começaram a falar com mais cuidado perto dele, e não demorou muito para que a praça fosse preenchida por palavras como “obrigado”, “por favor” e “eu gosto de você”.
Raraxó, sempre atento, passou a repetir essas palavras com entusiasmo, e a vila tornou-se um lugar mais gentil. Desde então, ele foi apelidado de “Papagaio Espelho”, pois refletia o melhor — ou o pior — de todos.
E assim, Raraxó, com sua simples habilidade, ajudou sua vila a se transformar, mostrando que até um papagaio pode ensinar grandes lições.